segunda-feira, 30 de maio de 2016

O beijo


O beijo é um gesto carregado de afeto e intimidade. É cientificamente comprovado que beijar estimula nosso cérebro a gerar oxitocina, hormônio produzido no hipotálamo, também conhecido como hormônio do amor, que nos dá aquela ótima sensação de prazer e bem estar. Realmente é muito bom demonstrar carinho e recebê-lo também. Mas será que o beijo sempre nos traz essa sensação agradável???

É muito interessante observar o modo como o beijo aparece, por exemplo, nos contos de fadas.

Em uma das histórias, a princesa beija um sapo para torná-lo príncipe. Eecaaaaaa!!! Neste caso, o poder transformador do beijo deixa a história cheia de romance e encantamento.



Em outra história, a bela jovem encontra-se adormecida por causa de um feitiço. Então, eis que surge um príncipe e a beija para despertá-la. Peraí!!! A princesa estava dormindo em um sono profundo, não é mesmo??? Então podemos entender que ela estava “indefesa” e recebeu um beijo na boca sem seu consentimento e de alguém que ela não tinha vínculo/intimidade. Isso soa um pouco estranho, né??? (Tire suas próprias conclusões!!!) Mas no conto de fadas é tudo lindoooo! A princesa acorda de seu sono e se casa com o príncipe.



Em uma nova versão dos contos de fadas, surge Malévola, e o beijo capaz de destruir a maldição lançada sobre a filha do rei não era de um príncipe, mas sim da própria Malévola, que ao longo da história conhece melhor a princesa e passa a amá-la!



Observem que o beijo tem papel preponderante em cada um desses contextos.

Vamos um pouco mais adiante no pensamento sobre o beijo.

É muito comum vermos e ouvirmos as pessoas solicitarem às crianças que deem um beijo em alguém. E por muitas vezes, elas se recusam, porém, são obrigadas a dar o beijo mesmo contra sua vontade. Situação desagradável, não é mesmo??? Imagine você ter que beijar alguém que você não queira?! Quando a criança se recusar a beijar alguém, não a obrigue. Respeite o desejo de beijar apenas as pessoas com as quais ela se sinta à vontade. Quando forçamos tal situação, a criança se sente muitas vezes constrangida e acaba “abafando” seu senso de desconforto diante de uma situação como essa. Vale ressaltar que a criança não deve tocar ou ser tocada quando se sentir desconfortável, justamente para que ela nunca perca esse senso de proteção em sua relação com outras pessoas. Carícias, tais como beijos e abraços, jamais devem ser concedidas de forma impositiva, e sim, devem ocorrer mediante a vontade única e exclusiva da criança!

Quando eu era criança, sempre que ia para a escola minha mãe beijava minha bochecha e deixava a marca de batom. Assim, eu me sentia segura, amada e não tirava aquela marca, pois ela representava a presença da mamãe comigo em um contexto que para mim era desafiador – a escola.

Lembro-me também, que quando era adolescente estive em Porto Seguro e, enquanto passeava na famosa “Passarela do Álcool”, fui surpreendida por um cara que me beijou e saiu andando no meio da multidão! Que nojooooo e que susto!!! Não gostei daquilo e me senti mal com tal situação!

Outra situação aversiva com relação ao beijo foi a de uma colega que comentou sempre ver seu tio colocando o dedo no nariz, mais precisamente, “limpando o salão”. Sua mãe a obrigava a beijar a mão do tio para pedir benção!!! Ela disse sentir náuseas, mas obedecia sua mãe e beijava a mão do tio. Imagine você em uma situação dessa!!!


Falar sobre o beijo envolve tantas lembranças, experiências, concepções e sensações, não é?! A mensagem que gostaria de enfatizar é que precisamos desenvolver a nossa capacidade de compreender o quanto o beijo é um ato íntimo e repleto de significado. Ele deve ser uma ação espontânea, respeitosa e consciente. Assim como não gostamos de beijar qualquer pessoa, não obrigue uma criança a fazer isso também. Beijar é bom quando compreendemos a dimensão afetiva que é transmitida quando nossos lábios tocam algo ou alguém.

Por Marcília Campos (Psicóloga e Psicopedagoga)
CRP-01/19239 DF
Contato: (61) 96274634
marciliacampos@hotmail.com

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